A professora de Desenvolvimento de Sistemas do SESI SENAI de Joinville, Roselene Fenske, 51 anos, está prestes a viver mais um capítulo marcante de sua trajetória no atletismo amador. No dia 12 de outubro, ela estará entre os 45 mil corredores que participarão da 48ª edição da Bank of America Chicago Marathon, uma das seis provas que compõem o seleto circuito das World Marathon Majors.
Roselene embarca para os Estados Unidos em 6 de outubro, levando na bagagem não apenas meses de treinos intensos, mas também a disciplina e a perseverança que aplica diariamente em sala de aula. “O treino perdido não se recupera. A disciplina que a corrida exige é a mesma que tento transmitir aos meus alunos: sem esforço e comprometimento, não se alcançam grandes objetivos”, afirma.
Da sala de aula às pistas
Biomédica de formação, professora do SESI SENAI e atualmente estudante de Educação Física, Roselene também mantém uma clínica de estética e terapias integrativas em Joinville. Mesmo com uma rotina intensa entre ensino, clínica e família, encontrou no esporte uma fonte de equilíbrio físico e emocional.
Sua jornada na corrida começou por acaso, durante um evento corporativo em 2015. Sem experiência, inscreveu-se em uma prova de três quilômetros e terminou em segundo lugar geral. “Voltei para casa com o troféu e a certeza de que queria continuar naquele esporte”, relembra. Desde então, mergulhou em treinos estruturados, aumentou gradualmente as distâncias e, em 2018, encarou sua primeira maratona.
Maratonista internacional
A lista de provas concluídas por Roselene impressiona. Ela já correu maratonas em Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Pomerode e Santiago (Chile), além de ter realizado o feito de participar da Maratona de Boston, em 2024 — considerada a mais tradicional e desafiadora do circuito mundial. A conquista da vaga em Boston, que só aceita atletas que atingem índices rigorosos, veio após excelente desempenho em Florianópolis, onde completou os 42 km em 3h48min, tempo inferior ao índice exigido para sua faixa etária.
“Boston foi a realização de um sonho. É a maratona mais difícil de conquistar e de correr, mas também a que mais me trouxe aprendizados. Depois dela, tive a coragem de planejar novos desafios”, conta.
Ao todo, a professora já soma 12 maratonas concluídas. A prova em Chicago será a 13ª da carreira, reforçando sua meta de completar todas as World Marathon Majors, que incluem, além de Boston e Chicago, as maratonas de Nova York, Londres, Berlim, Tóquio e Sidney.
Treino, rotina e equilíbrio
A preparação para Chicago começou meses antes. Os treinos ocorrem em horários que variam entre madrugadas e manhãs muito cedo, conciliados com as aulas que ministra no SESI SENAI. “Se tenho que dar aula cedo, acordo às 4h30 para treinar. Se a agenda aperta, ajusto os dias e horários. Mas nunca deixo de cumprir a planilha”, diz.
O volume semanal de corrida chega a 110 quilômetros nas fases mais intensas. A rotina inclui ainda musculação, dança, voleibol e até bolão, esporte que defendeu nos Jogos Abertos de Santa Catarina, embora tenha precisado se afastar este ano para priorizar as maratonas. Cuidados com alimentação e sono completam o planejamento. Açúcar, lactose e carboidratos refinados foram eliminados do cardápio. “O corpo precisa estar forte para aguentar tantas horas de corrida”, explica.
Inspiração para alunos e colegas
Mais do que uma conquista pessoal, Roselene enxerga na corrida uma oportunidade de inspirar seus alunos. “Parados não chegamos a lugar nenhum. Tento mostrar a eles que com disciplina e perseverança é possível superar limites e alcançar sonhos que parecem distantes”, afirma.
Na sala de aula, os estudantes acompanham de perto os preparativos da professora e celebram cada conquista. Para ela, o exemplo ultrapassa o esporte. “A corrida ensina a lidar com frustrações, a persistir e a compreender que grandes resultados são frutos de processos longos e consistentes. Isso serve para a vida inteira.”
Sonho de completar as Majors
Com a experiência em Boston e agora em Chicago, Roselene projeta nos próximos anos as demais provas do circuito mundial. A meta final é conquistar a medalha Six Star Finisher, destinada aos atletas que completam todas as seis maratonas Majors. “Não é apenas sobre correr, mas sobre escrever uma história de superação. Cada prova representa um pedaço desse sonho”, conclui.
A trajetória da professora Roselene mostra que o esporte vai muito além das pistas. As habilidades que ela desenvolve por meio da corrida — disciplina, constância, resiliência e a capacidade de superar limites — são as mesmas que leva para sua atuação profissional. Esses valores se refletem dentro da sala de aula, no convívio com os alunos e colegas, e também no ambiente corporativo. Assim como em uma maratona, os grandes resultados na vida e no trabalho dependem de preparo, dedicação e da coragem de persistir, mesmo diante dos maiores desafios.